Existe uma óbvia relação entre o número de praticantes desportivos e os sucessos na alta competição, ou seja, quanto mais praticantes houver, maiores são as probabilidades de se ter alguém a competir nessa modalidade ao mais alto nível.
Não é por mero acaso que grande parte dos grandes ciclistas que rodam em pelotões das grandes equipas internacionais, vem de zonas onde a pratica do ciclismo é muito forte.
Não foi por terem começado a praticar a modalidade desde jovens e nem sequer se deve ao investimento económico neles. O investimento económico numa modalidade potencia o aparecimento dos potenciais genéticos, mas não os cria.
Imagine que procura diamantes no meio da terra, quanto mais terra peneirar, maiores são as probabilidades de os encontrar, mas não é por peneirar muitas vezes granito que ele se transformará em pedra preciosa.
Há no meio aquilo a que se chama de “potencial genético”, são indivíduos que tem todas as características para poderem vir a ser grandes atletas nesta, ou naquela modalidade, mas para que isso aconteça é preciso primeiro sujeita-los a anos de treino específico.
Voltando às pedras preciosas, imagine um diamante bruto cheio de potencial. Não é mais que uma pedra baça que pode vir a valer milhões, mas primeiro é preciso encontra-lo, reconhecê-lo e coloca-lo nas mãos do lapidador certo e mesmo depois deste processo todo, é preciso que haja mercado para ele.
No desporto nada é fácil e é aos treinadores que compete o trabalho mais árduo e sem mérito que alguém poderá imaginar. Um bom treinador irá saber “lapidar” o atleta no momento certo, um mau treinador nunca reconhecerá o diamante bruto como uma potencial jóia. Mas não é disto que quero falar.
A detecção de talentos é um papel crucial no desenvolvimento de uma modalidade ao mais alto nível, mas é também demorada, difícil e muitas vezes frustrante e inglória, por isso é que a maioria dos treinadores prefere investir em campeões já formados, ou latentes, assim como os patrocinadores desviam-se deste tipo de trabalho onde o reconhecimento é tardio quando vem, mas sem ele, um dia não temos atletas ao mais alto nível, porque todos se esquivam a dar ferramentas para crivar atletas e outros tantos recusam-se a pegar nessas ferramentas.
Todos conhecemos a história do atleta Cristiano Ronaldo, agora imagine que ele podia estar na Madeira a servir num restaurante e a dar uns toques na bola lá num clube regional, se um dia alguém não tivesse reparado nele e se o próprio não tivesse trabalhado no seu próprio talento.
Lia que alguém dizia, um atleta é 10% genética e 90% trabalho. Se não estiver lá um, ou outro, estaremos sempre aquém.